A Batalha dos Guararapes

on sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Em duas batalhas travadas no século 17 nos pernambucanos montes Guararapes, os luso-brasileiros derrotaram os holandeses com táticas de guerrilha. Os conflitos mudaram o destino do país

De um lado, um exército organizado, com forte artilharia, munição e equipamentos para a guerra, liderados por uma superpotência. Do outro, soldados improvisados, em número muito inferior – menos de um terço da quantidade de combatentes dos inimigos.

Lutavam descalços e sem camisa, munidos apenas de espadas e facões. Mas com uma vantagem: conheciam como ninguém a topografia do cenário de guerra. E acabaram impingindo uma derrota humilhante aos adversários.

Descrição da Guerra do Vietnã, em que os poderosos americanos foram massacrados pelos asiáticos? Nada disso. A luta acima ocorreu em meio à lama da região entre os montes e os mangues de Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife. Foram duas batalhas, que estão entre as mais decisivas para o futuro da América no século 17.

Em abril de 1648 e em fevereiro de 1649, os conflitos que marcaram o destino do Brasil não pareciam, à primeira vista, muito justos. A República das Províncias Unidas dos Países Baixos, mais conhecida pelo nome de sua província mais importante, a Holanda (então a maior potência naval do planeta), enfrentou um exército formado por portugueses, mazombos (descendentes de portugueses nascidos no Brasil), índios e negros.

As derrotas sofridas pelos holandeses na região obrigariam, seis anos mais tarde, que eles abrissem mão de suas conquistas no Nordeste brasileiro. Por isso mesmo, não é exagero afirmar que foi ali, em Guararapes, que os habitantes da América portuguesa ajudaram a moldar aquilo que se tornaria a identidade brasileira.

“Para os holandeses no século 17, Guararapes significou algo como a Guerra do Vietnã para os Estados Unidos no século 20 porque, com táticas de guerrilha mais apropriadas à região, os luso-brasileiros derrotaram um dos mais poderosos exércitos europeus”, diz o jornalista e historiador Leonardo Dantas da Silva, um dos maiores especialistas na época conhecida como Brasil Holandês, autor de Os Holandeses em Pernambuco.

Para entender os enfrentamentos que deram início ao fim da ocupação holandesa, é necessário analisar os sangrentos conflitos na Europa da época – dos quais a invasão holandesa ao Nordeste do Brasil foi um dos capítulos mais importantes.

Conflito Global

Assim como os Estados Unidos são atualmente a maior potência do mundo, o Império Espanhol era o todo-poderoso do século 16. Dominava territórios não apenas na Espanha como em diversos reinos que hoje integram a Itália e a França, assim como o território que hoje é dividido entre Bélgica, Holanda e Luxemburgo – em meados do século 16, esses três países faziam parte dos chamados Países Baixos Espanhóis.

Em meio ao racha religioso causado pela Reforma Protestante, diversas regiões que trocaram o catolicismo pelas teses de Lutero e Calvino não viam mais razão para estarem submetidas aos católicos espanhóis.

Foi o caso de sete províncias ao norte dos Países Baixos que, em 1579, fundaram a União de Utrecht – apesar de a Holanda ser apenas uma dessas províncias, era tão importante que o novo país levou seu nome. Como os espanhóis não estavam dispostos a perder a região, estratégica para as rotas de comércio na Europa, a guerra foi inevitável.

O conflito entre holandeses e espanhóis não tinha nada a ver com o Brasil. Isso até 1580. Logo no ano seguinte à União de Utrecht, o rei Filipe II da Espanha aproveitou-se do vácuo de poder em Portugal deixado pela morte de dom Sebastião para anexar o país aos seus domínios, formando a União Ibérica.

A partir daí, o Brasil – e o precioso açúcar bruto produzido em seus engenhos e refinado pelos holandeses (leia abaixo) – passava a pertencer aos inimigos espanhóis. Foi então que os holandeses montaram duas espécies de multinacionais para tomar dos espanhóis-portugueses suas colônias: a Companhia das Índias Orientais, que encheu os cofres da Holanda controlando as possessões portuguesas no Oriente, e a Companhia das Índias Ocidentais, cuja missão era invadir as regiões produtoras de açúcar na América.

Não fosse pelas duas batalhas em Guararapes, os holandeses poderiam ter chegado lá.
O primeiro destino da Companhia das Índias Ocidentais foi a Bahia. Em 1624, dezenas de navios com a bandeira tricolor holandesa invadiram a baía de Todos os Santos até tomarem a cidade de Salvador.

Mas a ocupação não durou muito tempo: em 1625, uma esquadra luso-espanhola bem equipada conseguiu, com ajuda da população local, expulsar os holandeses da cidade. Cinco anos depois, a história seria diferente: ao tomarem a cidade de Olinda em 1630, os holandeses só sairiam do Nordeste em 1654. “Esses 24 anos de domínio estrangeiro comportaram na realidade mais de 16 anos de guerra”, escreveu o historiador Evaldo Cabral de Mello, autor de Olinda Restaurada.

Cabral divide a ocupação holandesa em três períodos. O primeiro vai de 1630 a 1637, quando a resistência local é obrigada a abandonar Pernambuco e os holandeses passam a controlar os territórios que vão do Ceará à foz do São Francisco (na divisa entre Alagoas e Sergipe). O segundo compreende os anos de 1637 a 1645, englobando principalmente o governo João Maurício de Nassau e o começo da revolta luso-brasileira (em 1640, Portugal voltou a ser independente da Espanha). O terceiro vai de 1645 a 1654 e marca a chamada Guerra de Restauração. Esta termina com a expulsão total dos holandeses. Foi exatamente nesse período que se deram as duas batalhas de Guararapes.

Guerrilha no mangue

Desde que Maurício de Nassau partira, em 1644, a situação dos holandeses no Brasil começou a definhar. Seus substitutos na Companhia das Índias Ocidentais não conseguiam controlar a crescente revolta dos habitantes locais contra o domínio estrangeiro com a mesma competência.

A queda do preço do açúcar e as dívidas impagáveis com a Companhia acumuladas por produtores locais – além da certeza de que Portugal não teria condições de retomar a região pelo envio de uma esquadra, já que havia firmado uma trégua com os holandeses –, fizeram com que os descontentes decidissem agir por conta própria.

Em 1645, organizaram um exército responsável por grandes vitórias, que encurralou os holandeses na cidade de Recife. Entre essas batalhas, a mais famosa foi a chamada Monte das Tabocas, decisiva para inverter o curso da história holandesa no Brasil. “Essa batalha abriu a campanha da Restauração e mostrou sua viabilidade militar, além de provocar a adesão de outras províncias”, diz o historiador militar e coronel Cláudio Moreira Bento. “É nesse momento que se define a estratégia de guerrilha que atingirá seu apogeu em Guararapes.”

O principal responsável por essa estratégia foi o militar de origem portuguesa Antônio Dias Cardoso, enviado da Bahia pelo governador-geral Antônio Telles da Silva. Conhecedor das técnicas de combate indígena, Dias Cardoso liderou no monte das Tabocas uma força de 1200 mazombos insurretos munidos de armas de fogo, foices, paus e flechas. As emboscadas derrotaram 1900 holandeses. A partir de então, ele seria apelidado de “mestre das emboscadas”. “Hoje, Dias Cardoso seria uma espécie de líder de forças especiais do Exército”, diz Cláudio Bento.

Acostumados a lutar em campo aberto na Europa, a artilharia pesada do Exército holandês mostrou-se vulnerável às novas táticas de guerrilha empregadas por seus adversários no Brasil.

De maneira geral, cada companhia do Exército holandês formada por 500 homens era dividida em dois grupos: 300 piqueiros (carregavam os piques, lanças grandes no estilo medieval) que iam se revezando com o grupo de 200 mosqueteiros.
Enquanto os mosqueteiros carregavam suas armas, os piqueiros assumiam a luta – e, quando os mosqueteiros estavam prontos para atirar, iam à frente dos piqueiros. “O problema é que esse tipo de luta não era adequado à vegetação local”, diz Dantas da Silva.

“Em meio à mata e aos terrenos úmidos, não havia sequer raio de ação para a artilharia. A luta se dava mesmo na batalha corpo a corpo”. Foi com essa estratégia que, em abril de 1648, o exército luso-brasileiro derrotou os holandeses na primeira Batalha dos Guararapes.

A Primeira batalha

Cercados em Recife, os holandeses tinham obrigatoriamente de passar por Guararapes para recuperar suas antigas posições ao sul. De acordo com registros da época, ao anoitecer do dia 17 de abril o tenente-general Von Schkoppe comandou a saída das tropas holandesas para o sul da cidade na maior euforia e alarde. “A marcha dos holandeses foi acompanhada pelo som de trombetas e tambores, mais parecendo um desfile militar que uma marcha para o combate”, diz Cláudio Bento. “Com isso, eles queriam minar a moral dos combatentes locais, fazendo com que os luso-brasileiros acreditassem que não valia a pena lutar contra o poderoso exército holandês.”

Após a chegada de reforços da Holanda, os historiadores estimam que o exército holandês em Guararapes tivesse entre 4500 e 6000 homens. Já os brasileiros não passavam de 2500. Como então eles conseguiram uma vitória acachapante, que resultou em algo entre 500 e 900 mortes dos holandeses, incluindo dezenas de oficiais? A principal causa da vitória dos luso-brasileiros foi a decisão dos oficiais de lutar ao estilo local, atraindo os holandeses para o combate corpo-a-corpo em meio a passagens estreitas na mata, onde eram vítimas fáceis de emboscadas.

Além da estratégia de guerrilha, os exércitos formados no Brasil tinham muito mais razões para a luta que apenas as econômicas. “As dívidas à Companhia das Índias Ocidentais foram um fator importante para a rebelião, mas elas não seriam suficientes para motivar o ardor dos pernambucanos”, afirma Dantas da Silva. “Não podemos esquecer que se tratava também de uma guerra religiosa, já que o que estava em jogo era a disputa entre os católicos da terra contra os protestantes invasores”, diz o pesquisador, que discorda da tese de que houve liberdade religiosa em Pernambuco durante o governo holandês. “Havia, no máximo, alguma tolerância religiosa.”

O fato é que, dois dias depois de saírem do Recife, os holandeses depararam, em Guararapes, com algumas escaramuças montadas por um grupo de luso-brasileiros de 200 ou 300 homens. Chamados para a luta, eles não sabiam ainda que eram atraídos para uma grande emboscada em uma passagem estreita e com mangue entre montes na região, chamado de Boqueirão. Marchando com dificuldade com seus uniformes pesados, os holandeses foram vítimas de um ataque geral a espada das tropas luso-brasileiras. “O caos se estabeleceu e muitos holandeses, ao tentarem fugir, terminaram sendo abatidos a espada”, diz Cláudio Bento. Centenas de holandeses foram mortos em meio à região úmida pelos luso-brasileiros, cujo contingente de negros e índios estava habituado a se deslocar pelos alagados.

O resultado foi trágico para os holandeses. Estima-se que a batalha terminou com mais de 500 baixas (entre mortos e desaparecidos) e 500 feridos. Do lado do exército formado no Brasil, o número de baixas foi estimado em 80 mortes e 400 feridos. Como o exército holandês tinha quase o triplo de homens dos soldados locais, sua derrota foi ainda mais humilhante. Mas o pior ainda estava por vir.

A Segunda Batalha

Após a primeira batalha, os holandeses permaneceram sitiados no Recife, de onde só podiam sair pelo mar. Para desvencilharem-se da insultante posição, eles tentaram novamente sair por terra da cidade na noite do dia 17 para o dia 18 de fevereiro de 1649 – dessa vez, em silêncio.

No dia 18, os luso-brasileiros já sabiam, contudo, que eles haviam marchado novamente para o sul. A idéia dos holandeses era chegar primeiro a Guararapes para se posicionarem com vantagem no inevitável confronto com as tropas luso-brasileiras.
Mais uma vez, porém, a estratégia holandesa falhou. Suas tropas foram encurraladas, de novo, pelos soldados camuflados em Guararapes. Acabaram sendo obrigados a recuar em pânico para o Recife. Nessa ocasião, mais de mil homens do exército holandês foram mortos ou presos, contra apenas 40 mortos e 200 feridos das tropas luso-brasileiras.

Após a segunda batalha dos Guararapes, os comerciantes da Companhia das Índias Ocidentais pareciam ter finalmente percebido que não estavam lutando contra tropas portuguesas movidas puramente por razões econômicas. Eles descobriram que o povo lutava com um sentimento de patriotismo – incluindo os soldados negros, liderados por André Vidal Negreiros, e os indígenas, que tinham como líder o índio convertido ao catolicismo Felipe Camarão
.
Enquanto a maioria do Exército holandês era recrutada em diversos pontos da Europa, os luso-brasileiros começaram a usar o termo “patriota” pela primeira vez no Brasil. Não é à toa que, após a expulsão definitiva dos holandeses, em 1654, a capitania de Pernambuco foi o epicentro de vários movimentos pela independência da região ocorridos nas décadas seguintes.

Prevaleceu o sentimento de que o Nordeste holandês fora restaurado graças ao esforço de sua gente – e sem ajuda dos portugueses. Desde 1994, um decreto do ex-presidente Itamar Franco vinculou a data da Primeira Batalha de Guararapes ao Dia do Exército – marcando simbolicamente o conflito como a data de nascimento das nossas Forças Armadas.

Economia doce

Holandeses tornaram-se experts no negócio do açúcar
Os holandeses tiveram uma participação importantíssima na primeira atividade econômica organizada do Brasil – e acabaram sendo os principais beneficiados no processo.

Logo no início da colonização, os portugueses escolheram plantar cana-de-açúcar por aqui para efetivar a posse da terra e, claro, levar lucro à metrópole. As primeiras mudas foram trazidas em 1532 e os engenhos multiplicaram-se rapidamente – em 1610, já eram 400, a maior parte no litoral de Pernambuco e da Bahia, que ocupavam posição estratégica para o escoamento do açúcar. A produção era toda voltada para exportação. Na Europa, a população mudava seus hábitos e começava a adoçar alimentos com açúcar em vez de mel.

Como os custos para a produção eram altos para os portugueses, os holandeses é que financiaram a montagem das moendas e a compra dos escravos e assumiram o refino, o transporte e a negociação do nosso açúcar. Após sua expulsão daqui, os holandeses, que já detinham a tecnologia da produção do açúcar, foram para as Antilhas desenvolver o negócio por lá. O Brasil perdera o monopólio e ganhara um rival na produção do açúcar. Assim, o preço do açúcar, em meados do século 18 e durante o 19, caiu pela metade.

Quanto vale?

Nordeste voltou a ser brasileiro por 63 toneladas de ouro

Apesar de batalhas como as de Guararapes terem sido decisivas para expulsar os holandeses do Brasil, Portugal teve que negociar muito com a Holanda para obter a garantia de que o Nordeste brasileiro seria respeitado como colônia portuguesa.
Em O Negócio do Brasil, o historiador Evaldo Cabral de Mello revela que, para que o Nordeste não fosse alvo novamente da Companhia das Índias Ocidentais, a coroa lusa teve que desembolsar 4 milhões de cruzados para os cofres holandeses, o equivalente, na época, a 63 toneladas de ouro – ou toda a receita da alfândega portuguesa em um ano inteiro.

Ou seja: na prática, o Nordeste foi praticamente comprado de volta por Portugal. Mas a transação da Companhia das Índias Ocidentais que ficaria mais famosa, contudo, seria a venda de um entreposto comercial na América do Norte chamado Nova Amsterdã
Após a retomada do Nordeste pelos portugueses, esse entreposto foi o destino natural de muitos negociantes expulsos de Pernambuco – inclusive dos judeus que haviam se estabelecido no atual centro do Recife (onde foi construída a primeira sinagoga daqui, no século 16). Após vender o entreposto de Nova Amsterdã para os ingleses, o local seria batizado com o seu nome atual, Nova York.

Fonte:maniadehistória.wordpress/guararapes

O que é o Dia Nacional da Consciência Negra ?

on terça-feira, 2 de novembro de 2010

O Dia da Consciência Negra é celebrado em 20 de Novembro no Brasil e é dedicado à reflexão sobre a inserção do negro na sociedade brasileira. A semana dentro da qual está esse dia recebe o nome de Semana da Consciência Negra.


A data foi escolhida por coincidir com o dia da morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Apesar das várias dúvidas levantadas quanto ao caráter de Zumbi nos últimos anos (comprovou-se, por exemplo, que ele mantinha escravos particulares) o Dia da Consciência Negra procura ser uma data para se lembrar a resistência do negro à escravidão de forma geral, desde o primeiro transporte forçado de africanos para o solo brasileiro (1594).

Algumas entidades como o Movimento Negro (o maior do gênero no país) organizam palestras e eventos educativos, visando principalmente crianças negras. Procura-se evitar o desenvolvimento do auto-preconceito, ou seja, da inferiorização perante a sociedade.

Outros temas debatidos pela comunidade negra e que ganham evidência neste dia são: inserção do negro no mercado de trabalho, cotas universitárias, se há discriminação por parte da polícia, identificação de etnias, moda e beleza negra, etc.

O dia é celebrado desde a década de 1960, embora só tenha ampliado seus eventos nos últimos anos; até então, o movimento negro precisava se contentar com o dia 13 de Maio, Abolição da Escravatura – comemoração que tem sido rejeitada por enfatizar muitas vezes a "generosidade" da princesa Isabel.(Wikipédia)

O Dia Nacional da Consciência Negra é comemorado em diversos estados e municípios, como Rio de Janeiro, Bahia, Alagoas. Em União dos Palmares, Alagoas, onde se localiza a Serra da Barriga, reduto que abrigou Zumbi e deu origem a data, é comemorado o Mês da Consciência Negra. Durante todo o mês de novembro, são realizadas ações comemorativas.

Diversas atividades culturais, como oficinas de trabalhos, apresentação de bandas afros, capoeira, comidas típicas, palestras. Neste período a Serra da Barriga recebe milhares de turistas de vários estados e autoridades.

A Serra da Barriga fica distante 09 km do centro da cidade de União dos Palmares. Seu acesso pode ser feito de carro, exceto em épocas de chuvas. O Governo Estadual se prontificou de ainda ano de 2010 iniciar o calçamento de toda a estrada quer liga União dos Palmares À Serra da Barriga.

Os eventos culturais são realizados pela Secretaria Municipal de Cultura.

Que Consciência eles defendem ?

O que se pode questionar é que tipo de Consciência Negra está sendo defendida, discutida durante todo o mês de novembro ?

Uma maior participação dos negros na vida econômica da cidade, do Estado e do País ? Uma maior participação dos negros em eventos educativos, culturais da cidade, do Estado e do país ? Uma maior participação dos negros na política da cidade, do Estado e do país ?

É necessário primeiro saber se o negro quer ser inserido nestes contextos. O que se debate nestas épocas é a falta de espaço para o negro participar da ordem econômica e social, mas esquecem-se de verificar que no dia a dia, em grande maioria, logicamente não se pode generalizar, o negro se omite em estudar, em trabalhar, em cuidar da própria imagem.

Diariamente vemos pessoas negras desempenhando funções subalternas, serviços pesados, reclamando dos salários, mas se recusam a freqüentar um banco escolar, a única via decente para se alcançar melhorias na vida.

A liberdade tão esperada só é conseguida com muitos anos de luta, mas luta pedagógica, estudo, capacitações, participações em eventos, concursos e outros caminhos semelhantes. Na maioria dos casos o negro está inserido nos esportes de massa e na música.

Até mesmo nas escolas de ensino fundamental a evasão de alunos negros é muito grande, a falta de acompanhamento e de interesse de seus pais é absurda. O número de alunos negros que concluem o ensino fundamental é pequeno e que concluem o ensino médio menor ainda e que ingressam e concluem o nível superior é insignificante.

Então, é necessário refletir o que significa Consciência Negra e buscá-la ou continuar comemorando a data, falando dos feitos de Zumbi sem saber exatamente quais seus significados e sua essência.

( Nicanor Filho ) professor de História e radialista – União dos Palmares-AL

Invasão Holandesa - uma versão diferente

on domingo, 31 de outubro de 2010

- Eram aproximadamente 07:00h do dia 08 de maio de 1624, quando uma esquadra holandesa chegou de surpresa à Salvador, a capital da colônia. A esquadra era composta de 26 embarcações e trazia 1700 soldados e 1600 outras pessoas. Estava selada a Invasão Holandesa no Brasil.

( Quadro com Mauricio de Nassau )

O Governador da Bahia, Diogo de Mendonça Furtado, não teve tempo de organizar a defesa. A cidade de Salvador foi facilmente dominada pelos invasores. O governador foi feito prisioneiro em seu próprio palácio e depois enviado à Holanda como prisioneiro. O Bispo D. Marcos Teixeira conseguiu fugir para o interior do território e se utilizando de pregações religiosas contra o calvinismo holandês, foi organizando, pouco a pouco, exército para lutar contra os holandeses, usando a tática de guerrilhas: atacar de surpresa ao inimigo, evitando grandes conflitos.

Enquanto os colonos se organizavam em guerrilhas, uma poderosa esquadra foi enviada pelo governo espanhol ( nessa época Brasil pertencia à Espanha, que havia dominado Portugal por sucessão de dinastia ), no governo de Felipe IV, com 52 navios, aproximadamente 13000 homens, comandada pelo marquês D.Fradique de Toledo Osório. Era o dia 29 de março de 1625. Os holandeses foram cercados pelo mar e por terra, resistiram por pouco tempo e no dia 1º de maio de 1625 foram expulsos do Brasil.

NOVA INVASÃO HOLANDESA - PERNAMBUCO

O Prejuízo financeiro que a Cia. das índias Ocidentais teve com a expulsão ocorrida na Bahia, foi fartamente compensada em 1628, três anos depois, quando o comandante holandês PIET HEIN assaltou uma frota de navios espanhóis carregados de prata. Com os lucros do assalto, os sócios da Cia. Das Índias Ocidentais se animaram e traçaram um novo plano de ataque ao Brasil.

Uma poderosa esquadra com 56 navios, 3500 soldados e 3780 pessoas foi enviada para atacar Pernambuco, a mais rentável capitania da época devido a grande produção de açúcar. A frota chegou ao Brasil na manhã de 14 de fevereiro de 1630. Desembarcaram em Olinda, mais precisamente onde ficam hoje a Praia de Rio Doce, no Bairro Rio Doce, ao norte de Olinda.

O governador de Pernambuco, Matias de Albuquerque não esperava o ataque e tinha no máximo 500 homens para proteger a capitania.Tentou resistir, muitos de seus soldados, ao verem a enorme desvantagem numérica, correram, e o Governador Matias, com poucos soldados teve que fugir para não ser preso nem morto.

Matias de Albuquerque fugiu para o interior da capitania, indo instalar-se com seus soldados numa área distante do litoral. Lá construiu uma fortaleza para residir e servir de defesa contra possíveis inimigos. O local do batizado de Arraial do Bom Jesus, distante aproximadamente 15 kms do litoral. Hoje, o Arraial do Bom Jesus, é administrado pelo Governo do Estado e recebe constantemente visitas de turistas e alunos para pesquisas culturais e históricas. O Arraial do Bom Jesus fica no Bairro de Casa Amarela, na cidade do Recife.

De lá do Arraial , Matias e Albuquerque se utilizou da mesma tática de guerrilhas, para atacar o inimigo de surpresa, sem se expor a grandes conflitos. Assim, os holandeses, que haviam construídos alguns fortes de defesa, na cidade de Olinda e depois em Recife, sofreram grandes baixas pois não sabiam onde se localizam os inimigos locais.

A tática de guerrilha estava dando certo para os luso-brasileiros até que um fato marcou a história do Brasil e mudou totalmente a situação. Domingos Fernandes Calabar, proprietário de três(03) engenhos de cana-de-açúcar, na cidade de Porto Calvo, conhecedor profundo da região, decidiu passar para o lado dos holandeses, passando informações sobre o esconderijo de Matias de Albuquerque.

Este gesto de Calabar foi considerado por muitos historiadores como uma traição à Pátria, traição do Brasil. Outros historiadores questionam a traição perguntando que Brasil Calabar traiu ? Brasil português ? Brasil espanhol ? Quem era o patrão na verdade, se na época do fato o Brasil estava nas mãos da Espanha?. Era o ano de 1635.
Matias desistiu de lutar diante das dificuldades e fugiu com seus soldados para Alagoas ( Alagoas hoje, antes era Pernambuco, ele se dirigia em direção à Penedo), quando decidiu para em Porto Calvo, descobriu o endereço de Calabar, cercou a casa do mesmo e o prendeu, condenando-o à morte pela forca por traição. Era o dia 22 de julho de 1635.

Com a fuga de Matias de Albuquerque, a Cia. Das Índias Ocidentais passava a administrar toda a região conquistada. Mas a luta de vários anos havia deixado muitos engenhos falidos e a produção açucareira estava em baixa, o que era ruim para os negócios holandeses. Para modificar esta situação, o governo holandês enviou ao Brasil, um homem experiente no trato com pessoas e habilidade administrativa, o conde JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU SIEGEN, nomeado governador-geral do Brasil Holandês. Era o ano de 1.637.

O GOVERNO DE MAURÍCIO DE NASSAU

Maurício era um homem que gostava de artes, da natureza, adorava plantas e animais. Até a chegada de Maurício, o governo do Brasil-Colônia não tinha sede própria, muitas vezes, as decisões políticas ou econômicas eram realizadas no Engenho São João, na atual cidade de Itamaracá, antes capitania de Itamaracá, pois este engenho era um dos mais rentáveis da capitania, na época. O engenho São João foi utilizado para filmagens do filme Menino de Engenho, do escritor José Lins do Rego.

Maurício trouxe da Holanda engenheiros, arquitetos, paisagistas e mandou construir o seu palácio de trabalho e residência. Foi construído o Palácio Friburgo, todo em madeira, com telhas importadas, na confluência dos rios Beberibe e Capibaribe, em Recife. O Palácio Friburgo foi construído de frente para os rios, pois Mauricio era amante da natureza, das águas. Atrás do palácio, ele construiu um enorme jardim, onde plantou flores e árvores diversas e criou pequenos animais.

Do Palácio Friburgo, Maurício admirava uma elevação noroeste do palácio, distante aproximadamente seis kms, muito bonita, com muitas árvores e grandes residências e igrejas, que foi chamada mais tarde de Olinda. Alguns historiadores alegam que o nome Olinda viria da admiração de Nassau pelo lugar, outros, entendem que Olinda é uma derivação de Holanda, por haver algumas semelhanças. De uma forma ou de outra, a vista do palácio é muito bonita.

Mauricio de Nassau fez um governo que atendeu as necessidades econômicas locais. Entre as diversas ações destacam-se :
- Concessão de créditos : A Cia das Índias Ocidentais concedeu crédito aos senhores de engenho em dificuldades financeiras, para que reaparelhassem os engenhos, recuperação de canaviais e compra de escravos,
- Tolerância religiosa : Mauricio de Nassau admitia tolerância religiosa. Diversas igrejas, como a católica, protestante, judaica, entre outras, puderam professar seus dogmas sem nenhuma perseguição,
- Obras urbanas : Depois da construção do Palácio Friburgo, construiu pontes, casas e o sistema hidráulico, obras sanitárias. No jardim do palácio construiu a cidade Maurícia em homenagem a si próprio.

Observação importante

O palácio atual, que é feito de alvenaria, com louças e outras peças importadas, foi reformado na época da expulsão dos holandeses. Foi modificado quase totalmente. A frente dele fica para a praça, que antes era o quintal do palácio e o quintal antigo, grande, com plantas e animais, hoje, tem uma praça ( Praça da República) o Teatro de Santa Isabel, o Fórum, algumas igrejas e casas comerciais. Antes, esse local era a Cidade Maurícia, hoje, é o Bairro Santo Antonio.

- Vida cultural : Maurício trouxe da Holanda, além de engenheiros, arquitetos, médicos, paisagistas, pintores e outros profissionais que não existiam no país para a realização das diversas obras que realizou.


A HISTÓRIA DO BOI VOADOR

Maurício precisava construir uma ponte mais forte entre a Cidade Maurícia e o Recife ( Recife, antes era só o espaço onde hoje é o Bairro do Recife, repleto de prédios antigos, perto do Cais), para facilitar e agilizar o tráfego entre Recife e o restante do continente. A única ponte que existia era estreita e não oferecia segurança. Nassau, mandou construir uma ponte de madeira forte, larga, bem resistente.

Foi construída a ponte ligando o Recife ao arco de entrada da Cidade Maurícia. Para conseguir recursos necessários para a construção da ponte, que foi a primeira ponte de grande extensão do Brasil, ele espalhou a notícia que um boi iria voar na inauguração da ponte. Muita gente colaborou com dinheiro e no dia da inauguração, que aconteceu a noite, Mauricio colocou um boi empanado, em tamanho original, pendurado numa corda quase transparente e com a iluminação precária da época, dava a impressão que o boi estava voado, atravessando de um lado para o outro por cima. Essa história ficou famosa e foi várias vezes retratada em bailes atuais de carnaval.

Mauricio de Nassau ganhou muito prestígio como administrador, porém a Holanda não via com bons olhos essa relação de Nassau com os senhores de engenho. Surgiram muitos problemas entre Nassau e os diretores da Cia das Índias Ocidentais. A Cia acusava Nassau de facilitar demais a vida dos senhores de engenho e querer enriquecer com as transações. Nassau acusava a Cia de ser rigorosa demais e dificultar a vida econômica da colônia. Esses desentendimentos terminaram com a saída de Nassau do Brasil, de volta à Holanda, em 22 de maio de 1.644.

A INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA

Em 1640, ainda no governo de Maurício de Nassau,um fato novo modificou o cenário europeu. O Duque de Bragança recuperou a coroa, que estava em mãos espanholas. Com o título de D.João IV, o duque subiu ao trono dando início a dinastia de Bragança e Portugal passou novamente a ser um país independente. Neste período, portugueses e holandeses estabeleceram uma trégua de dez(10) anos, que não chegou a ser cumprida.
Com a saída de Nassau, a administração holandesa passou a ser muito rígida, cruel e prepotente com todos no Brasil. A perseguição aos católicos era um fato constante, a cobrança judicial, ameaçadora das dívidas dos senhores de engenho aconteciam todo dia.

Os habitantes da colônia, insatisfeitos com essa situação provocada pelo Holanda após a saída de Nassau, organizaram um movimento para expulsar os holandeses. Neste movimento participaram ricos e pobres, comerciantes e moradores comuns.
No comando e na organização do movimento estavam : João Fernandes Vieira, rico senhor de engenho e antigo aliado dos holandeses; o negro Henrique Dias, que comandou um batalhão de negros; o índio Antonio Felipe Camarão, que chefiou um grande exército de índios; e o paraibano André Vidal de Negreiros, filho de portugueses. Duas grandes batalhas foram travadas.

As duas batalhas aconteceram num morro, que antes era mata fechada, hoje, local residencial, com uma igreja e de visitação turística. É o Morro dos Guararapes. A Batalha chamou-se Batalha dos Guararapes, durou aproximadamente quinze (15) dias de muita luta, com perdas de ambos os lados. Mas, os locais ( portugueses e brasileiros da colônia estava em maior número e saíram vitoriosos ). Era o ano de 1648.

Após a batalha, houve um período de calma entre as duas partes, até que um ano depois, nova batalha sangrenta entre portugueses e brasileiros contra holandeses. Novamente, vitória dos locais, até por que a Holanda, desgastada, não enviava mais reforços nenhum para o Brasil. Estávamos em 1649. Na única igreja do Morro dos Guararapes, de N.S. das Merces, encontram-se os restos mortais de Henrique Dias e Antonio Felipe Camarão. Anualmente o Governo do Estado de Pernambuco realiza uma festa de nove(09) noites com muitas atrações culturais e musicais, no local, em comemoração a expulsão dos holandeses do local.

HOLANDESES EM ITAMARACÁ
( Forte Órange )

Com a expulsão dos holandeses, de Recife, eles partiram a pé em direção ao Estado da Paraiba, com intenção de permanecerem por lá ou de lá , voltar para a Holanda, visto que em Pernambuco estava difícil para eles. No caminho para a Paraíba,decidiram ficar na Ilha de Itamaracá, grande produtora de açúcar da época. Derrubaram madeira e construíram um forte, que seria a residência,com capela e ao mesmo tempo local de alojamento para os soldados holandeses, desejosos de proteger o território contra os portugueses. Construiram o Forte Orange, em homenagem as cores da bandeira holandesa e a cidade de Orange, na Holanda. Ali viveram e lutaram por aproximadamente cinco (05) anos.

Para se protegeram de possíveis invasões por mar, importaram diversos canhões, que atiravam balas de ferro a uma distância de aproximadamente 200 metros. Os canhões eram muito pesados e foram transportados dos navios até o forte puxados por cordas e muitas pessoas, depois arrastado até os locais posicionados para a defesa do forte.

A BATALHA DE TEJUCUPAPO

Essa batalha aconteceu no atual município de Goiana, Estado de Pernambuco, distante aproximadamente 25kms do Forte Órange, de Itamaracá. Em 1646, ano do acontecimento, o distrito possuía apenas uma rua larga, uma praça ladeada por algumas casas simples e juma igreja no final, ( Igreja de São Lourenço ) como era de hábito nos interiores brasileiros. Os alimentos estavam acabando no Forte Órange e os holandeses precisavam sair para conseguir mantimentos. Era sair e enfrentar as forças inimigas, mas não tinha outra alternativa. Comandados pelo almirante Lichthant se deslocaram até Tejucupapo, povoado próspero em cana-de-açúcar, pertencente ao atual município de Goiana, Estado de Pernambuco, distante de Recife aproximadamente 70km, e distante de Itamaracá aproximadamente 20km.

Os holandeses esperavam encontrar farinha de mandioca e caju ( caju para combater o escorbuto que atacou muitos soldados holandeses) e na região era e ainda é rica em plantações de pé de caju. Os holandeses decidiram em dia de domingo, acreditando que os homens iriam ,de cavalo, à Recife nestas ocasiões vender os produtos nas feiras e o povoado ficaria desprotegidos, com apenas alguns velhos, mulheres e crianças.
Realmente a maioria dos homens não se encontrava no local, mas os holandeses não contavam com a reação das mulheres locais.

Quando se aproximaram do local foram vistos e rapidamente as mulheres Maria Camarão ( esposa de Felipe Camarão), Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina se organizaram para o ataque. Enquanto alguns poucos homens que restavam no povoado atiravam nos invasores mantendo-os à distância, as mulheres citadas ferveram água com pimenta em tachos de barro e quando os holandeses se aproximaram foram recebidos por dezenas de potes com água quente e pimenta nos rostos e nos olhos, o que provocou uma gritaria e desespero nos holandeses, que com os olhos ardendo, não conseguiam ver nada, não conseguiam fugir do local.

Assim, a golpes de pauladas e paneldas, aproximadamente 300 holandeses foram mortos na batalha, enquanto alguns conseguiram fugir desesperadamente do local. O fato aconteceu no dia 24 de abril de 1646. O governo do Estado de Pernambuco , juntamente com a prefeitura de Goiana, a cada ano, realizam festas com peças teatrais e musicais em homenagem as heroínas de Tejucupapo. Foi rodado um filme denominado “ Epopéia das Heroinas de Tejucupapo “.

As derrotas se sucederam para os holandeses. No ano de 1653, o governo português enviou ao Brasil uma esquadra comandada por Pedro Jacques de Magalhães, com objetivo de dar suporte ao governo local contra os holandeses. Uma parte dos holandeses fugiu para a Paraiba e Rio Grande do Norte e outra parte fugiu para o interior do estado, estabelendo-se na Campina da Taborda, no atual município de Vitória de Santo Antão, distante de Recife aproximadamente 55 km e ,lá foram enfrentados pelas forças do governo local e em 26 de janeiro de 1654, os holandeses se renderam na Batalha da Campina da Taborda, mas oficialmente se renderam no Tratado da Paz de Haia no dia 06 de agosto de 1661.

Os holandeses saíram do Brasil e foram para a América Central, notadamente nas Antilhas, onde plantaram cana-de-açúcar, com a experiência já adquirida e passaram a concorrer forte como açúcar brasileiro, na Europa.

Fontes: José Nicanor Filho, professor de História, radialista,guia turístico
Com informações de Cotrim, Gilberto-História e Consciência do Brasil, Wikipédia.