Invasão Holandesa - uma versão diferente

on domingo, 31 de outubro de 2010

- Eram aproximadamente 07:00h do dia 08 de maio de 1624, quando uma esquadra holandesa chegou de surpresa à Salvador, a capital da colônia. A esquadra era composta de 26 embarcações e trazia 1700 soldados e 1600 outras pessoas. Estava selada a Invasão Holandesa no Brasil.

( Quadro com Mauricio de Nassau )

O Governador da Bahia, Diogo de Mendonça Furtado, não teve tempo de organizar a defesa. A cidade de Salvador foi facilmente dominada pelos invasores. O governador foi feito prisioneiro em seu próprio palácio e depois enviado à Holanda como prisioneiro. O Bispo D. Marcos Teixeira conseguiu fugir para o interior do território e se utilizando de pregações religiosas contra o calvinismo holandês, foi organizando, pouco a pouco, exército para lutar contra os holandeses, usando a tática de guerrilhas: atacar de surpresa ao inimigo, evitando grandes conflitos.

Enquanto os colonos se organizavam em guerrilhas, uma poderosa esquadra foi enviada pelo governo espanhol ( nessa época Brasil pertencia à Espanha, que havia dominado Portugal por sucessão de dinastia ), no governo de Felipe IV, com 52 navios, aproximadamente 13000 homens, comandada pelo marquês D.Fradique de Toledo Osório. Era o dia 29 de março de 1625. Os holandeses foram cercados pelo mar e por terra, resistiram por pouco tempo e no dia 1º de maio de 1625 foram expulsos do Brasil.

NOVA INVASÃO HOLANDESA - PERNAMBUCO

O Prejuízo financeiro que a Cia. das índias Ocidentais teve com a expulsão ocorrida na Bahia, foi fartamente compensada em 1628, três anos depois, quando o comandante holandês PIET HEIN assaltou uma frota de navios espanhóis carregados de prata. Com os lucros do assalto, os sócios da Cia. Das Índias Ocidentais se animaram e traçaram um novo plano de ataque ao Brasil.

Uma poderosa esquadra com 56 navios, 3500 soldados e 3780 pessoas foi enviada para atacar Pernambuco, a mais rentável capitania da época devido a grande produção de açúcar. A frota chegou ao Brasil na manhã de 14 de fevereiro de 1630. Desembarcaram em Olinda, mais precisamente onde ficam hoje a Praia de Rio Doce, no Bairro Rio Doce, ao norte de Olinda.

O governador de Pernambuco, Matias de Albuquerque não esperava o ataque e tinha no máximo 500 homens para proteger a capitania.Tentou resistir, muitos de seus soldados, ao verem a enorme desvantagem numérica, correram, e o Governador Matias, com poucos soldados teve que fugir para não ser preso nem morto.

Matias de Albuquerque fugiu para o interior da capitania, indo instalar-se com seus soldados numa área distante do litoral. Lá construiu uma fortaleza para residir e servir de defesa contra possíveis inimigos. O local do batizado de Arraial do Bom Jesus, distante aproximadamente 15 kms do litoral. Hoje, o Arraial do Bom Jesus, é administrado pelo Governo do Estado e recebe constantemente visitas de turistas e alunos para pesquisas culturais e históricas. O Arraial do Bom Jesus fica no Bairro de Casa Amarela, na cidade do Recife.

De lá do Arraial , Matias e Albuquerque se utilizou da mesma tática de guerrilhas, para atacar o inimigo de surpresa, sem se expor a grandes conflitos. Assim, os holandeses, que haviam construídos alguns fortes de defesa, na cidade de Olinda e depois em Recife, sofreram grandes baixas pois não sabiam onde se localizam os inimigos locais.

A tática de guerrilha estava dando certo para os luso-brasileiros até que um fato marcou a história do Brasil e mudou totalmente a situação. Domingos Fernandes Calabar, proprietário de três(03) engenhos de cana-de-açúcar, na cidade de Porto Calvo, conhecedor profundo da região, decidiu passar para o lado dos holandeses, passando informações sobre o esconderijo de Matias de Albuquerque.

Este gesto de Calabar foi considerado por muitos historiadores como uma traição à Pátria, traição do Brasil. Outros historiadores questionam a traição perguntando que Brasil Calabar traiu ? Brasil português ? Brasil espanhol ? Quem era o patrão na verdade, se na época do fato o Brasil estava nas mãos da Espanha?. Era o ano de 1635.
Matias desistiu de lutar diante das dificuldades e fugiu com seus soldados para Alagoas ( Alagoas hoje, antes era Pernambuco, ele se dirigia em direção à Penedo), quando decidiu para em Porto Calvo, descobriu o endereço de Calabar, cercou a casa do mesmo e o prendeu, condenando-o à morte pela forca por traição. Era o dia 22 de julho de 1635.

Com a fuga de Matias de Albuquerque, a Cia. Das Índias Ocidentais passava a administrar toda a região conquistada. Mas a luta de vários anos havia deixado muitos engenhos falidos e a produção açucareira estava em baixa, o que era ruim para os negócios holandeses. Para modificar esta situação, o governo holandês enviou ao Brasil, um homem experiente no trato com pessoas e habilidade administrativa, o conde JOÃO MAURÍCIO DE NASSAU SIEGEN, nomeado governador-geral do Brasil Holandês. Era o ano de 1.637.

O GOVERNO DE MAURÍCIO DE NASSAU

Maurício era um homem que gostava de artes, da natureza, adorava plantas e animais. Até a chegada de Maurício, o governo do Brasil-Colônia não tinha sede própria, muitas vezes, as decisões políticas ou econômicas eram realizadas no Engenho São João, na atual cidade de Itamaracá, antes capitania de Itamaracá, pois este engenho era um dos mais rentáveis da capitania, na época. O engenho São João foi utilizado para filmagens do filme Menino de Engenho, do escritor José Lins do Rego.

Maurício trouxe da Holanda engenheiros, arquitetos, paisagistas e mandou construir o seu palácio de trabalho e residência. Foi construído o Palácio Friburgo, todo em madeira, com telhas importadas, na confluência dos rios Beberibe e Capibaribe, em Recife. O Palácio Friburgo foi construído de frente para os rios, pois Mauricio era amante da natureza, das águas. Atrás do palácio, ele construiu um enorme jardim, onde plantou flores e árvores diversas e criou pequenos animais.

Do Palácio Friburgo, Maurício admirava uma elevação noroeste do palácio, distante aproximadamente seis kms, muito bonita, com muitas árvores e grandes residências e igrejas, que foi chamada mais tarde de Olinda. Alguns historiadores alegam que o nome Olinda viria da admiração de Nassau pelo lugar, outros, entendem que Olinda é uma derivação de Holanda, por haver algumas semelhanças. De uma forma ou de outra, a vista do palácio é muito bonita.

Mauricio de Nassau fez um governo que atendeu as necessidades econômicas locais. Entre as diversas ações destacam-se :
- Concessão de créditos : A Cia das Índias Ocidentais concedeu crédito aos senhores de engenho em dificuldades financeiras, para que reaparelhassem os engenhos, recuperação de canaviais e compra de escravos,
- Tolerância religiosa : Mauricio de Nassau admitia tolerância religiosa. Diversas igrejas, como a católica, protestante, judaica, entre outras, puderam professar seus dogmas sem nenhuma perseguição,
- Obras urbanas : Depois da construção do Palácio Friburgo, construiu pontes, casas e o sistema hidráulico, obras sanitárias. No jardim do palácio construiu a cidade Maurícia em homenagem a si próprio.

Observação importante

O palácio atual, que é feito de alvenaria, com louças e outras peças importadas, foi reformado na época da expulsão dos holandeses. Foi modificado quase totalmente. A frente dele fica para a praça, que antes era o quintal do palácio e o quintal antigo, grande, com plantas e animais, hoje, tem uma praça ( Praça da República) o Teatro de Santa Isabel, o Fórum, algumas igrejas e casas comerciais. Antes, esse local era a Cidade Maurícia, hoje, é o Bairro Santo Antonio.

- Vida cultural : Maurício trouxe da Holanda, além de engenheiros, arquitetos, médicos, paisagistas, pintores e outros profissionais que não existiam no país para a realização das diversas obras que realizou.


A HISTÓRIA DO BOI VOADOR

Maurício precisava construir uma ponte mais forte entre a Cidade Maurícia e o Recife ( Recife, antes era só o espaço onde hoje é o Bairro do Recife, repleto de prédios antigos, perto do Cais), para facilitar e agilizar o tráfego entre Recife e o restante do continente. A única ponte que existia era estreita e não oferecia segurança. Nassau, mandou construir uma ponte de madeira forte, larga, bem resistente.

Foi construída a ponte ligando o Recife ao arco de entrada da Cidade Maurícia. Para conseguir recursos necessários para a construção da ponte, que foi a primeira ponte de grande extensão do Brasil, ele espalhou a notícia que um boi iria voar na inauguração da ponte. Muita gente colaborou com dinheiro e no dia da inauguração, que aconteceu a noite, Mauricio colocou um boi empanado, em tamanho original, pendurado numa corda quase transparente e com a iluminação precária da época, dava a impressão que o boi estava voado, atravessando de um lado para o outro por cima. Essa história ficou famosa e foi várias vezes retratada em bailes atuais de carnaval.

Mauricio de Nassau ganhou muito prestígio como administrador, porém a Holanda não via com bons olhos essa relação de Nassau com os senhores de engenho. Surgiram muitos problemas entre Nassau e os diretores da Cia das Índias Ocidentais. A Cia acusava Nassau de facilitar demais a vida dos senhores de engenho e querer enriquecer com as transações. Nassau acusava a Cia de ser rigorosa demais e dificultar a vida econômica da colônia. Esses desentendimentos terminaram com a saída de Nassau do Brasil, de volta à Holanda, em 22 de maio de 1.644.

A INSURREIÇÃO PERNAMBUCANA

Em 1640, ainda no governo de Maurício de Nassau,um fato novo modificou o cenário europeu. O Duque de Bragança recuperou a coroa, que estava em mãos espanholas. Com o título de D.João IV, o duque subiu ao trono dando início a dinastia de Bragança e Portugal passou novamente a ser um país independente. Neste período, portugueses e holandeses estabeleceram uma trégua de dez(10) anos, que não chegou a ser cumprida.
Com a saída de Nassau, a administração holandesa passou a ser muito rígida, cruel e prepotente com todos no Brasil. A perseguição aos católicos era um fato constante, a cobrança judicial, ameaçadora das dívidas dos senhores de engenho aconteciam todo dia.

Os habitantes da colônia, insatisfeitos com essa situação provocada pelo Holanda após a saída de Nassau, organizaram um movimento para expulsar os holandeses. Neste movimento participaram ricos e pobres, comerciantes e moradores comuns.
No comando e na organização do movimento estavam : João Fernandes Vieira, rico senhor de engenho e antigo aliado dos holandeses; o negro Henrique Dias, que comandou um batalhão de negros; o índio Antonio Felipe Camarão, que chefiou um grande exército de índios; e o paraibano André Vidal de Negreiros, filho de portugueses. Duas grandes batalhas foram travadas.

As duas batalhas aconteceram num morro, que antes era mata fechada, hoje, local residencial, com uma igreja e de visitação turística. É o Morro dos Guararapes. A Batalha chamou-se Batalha dos Guararapes, durou aproximadamente quinze (15) dias de muita luta, com perdas de ambos os lados. Mas, os locais ( portugueses e brasileiros da colônia estava em maior número e saíram vitoriosos ). Era o ano de 1648.

Após a batalha, houve um período de calma entre as duas partes, até que um ano depois, nova batalha sangrenta entre portugueses e brasileiros contra holandeses. Novamente, vitória dos locais, até por que a Holanda, desgastada, não enviava mais reforços nenhum para o Brasil. Estávamos em 1649. Na única igreja do Morro dos Guararapes, de N.S. das Merces, encontram-se os restos mortais de Henrique Dias e Antonio Felipe Camarão. Anualmente o Governo do Estado de Pernambuco realiza uma festa de nove(09) noites com muitas atrações culturais e musicais, no local, em comemoração a expulsão dos holandeses do local.

HOLANDESES EM ITAMARACÁ
( Forte Órange )

Com a expulsão dos holandeses, de Recife, eles partiram a pé em direção ao Estado da Paraiba, com intenção de permanecerem por lá ou de lá , voltar para a Holanda, visto que em Pernambuco estava difícil para eles. No caminho para a Paraíba,decidiram ficar na Ilha de Itamaracá, grande produtora de açúcar da época. Derrubaram madeira e construíram um forte, que seria a residência,com capela e ao mesmo tempo local de alojamento para os soldados holandeses, desejosos de proteger o território contra os portugueses. Construiram o Forte Orange, em homenagem as cores da bandeira holandesa e a cidade de Orange, na Holanda. Ali viveram e lutaram por aproximadamente cinco (05) anos.

Para se protegeram de possíveis invasões por mar, importaram diversos canhões, que atiravam balas de ferro a uma distância de aproximadamente 200 metros. Os canhões eram muito pesados e foram transportados dos navios até o forte puxados por cordas e muitas pessoas, depois arrastado até os locais posicionados para a defesa do forte.

A BATALHA DE TEJUCUPAPO

Essa batalha aconteceu no atual município de Goiana, Estado de Pernambuco, distante aproximadamente 25kms do Forte Órange, de Itamaracá. Em 1646, ano do acontecimento, o distrito possuía apenas uma rua larga, uma praça ladeada por algumas casas simples e juma igreja no final, ( Igreja de São Lourenço ) como era de hábito nos interiores brasileiros. Os alimentos estavam acabando no Forte Órange e os holandeses precisavam sair para conseguir mantimentos. Era sair e enfrentar as forças inimigas, mas não tinha outra alternativa. Comandados pelo almirante Lichthant se deslocaram até Tejucupapo, povoado próspero em cana-de-açúcar, pertencente ao atual município de Goiana, Estado de Pernambuco, distante de Recife aproximadamente 70km, e distante de Itamaracá aproximadamente 20km.

Os holandeses esperavam encontrar farinha de mandioca e caju ( caju para combater o escorbuto que atacou muitos soldados holandeses) e na região era e ainda é rica em plantações de pé de caju. Os holandeses decidiram em dia de domingo, acreditando que os homens iriam ,de cavalo, à Recife nestas ocasiões vender os produtos nas feiras e o povoado ficaria desprotegidos, com apenas alguns velhos, mulheres e crianças.
Realmente a maioria dos homens não se encontrava no local, mas os holandeses não contavam com a reação das mulheres locais.

Quando se aproximaram do local foram vistos e rapidamente as mulheres Maria Camarão ( esposa de Felipe Camarão), Maria Quitéria, Maria Clara e Joaquina se organizaram para o ataque. Enquanto alguns poucos homens que restavam no povoado atiravam nos invasores mantendo-os à distância, as mulheres citadas ferveram água com pimenta em tachos de barro e quando os holandeses se aproximaram foram recebidos por dezenas de potes com água quente e pimenta nos rostos e nos olhos, o que provocou uma gritaria e desespero nos holandeses, que com os olhos ardendo, não conseguiam ver nada, não conseguiam fugir do local.

Assim, a golpes de pauladas e paneldas, aproximadamente 300 holandeses foram mortos na batalha, enquanto alguns conseguiram fugir desesperadamente do local. O fato aconteceu no dia 24 de abril de 1646. O governo do Estado de Pernambuco , juntamente com a prefeitura de Goiana, a cada ano, realizam festas com peças teatrais e musicais em homenagem as heroínas de Tejucupapo. Foi rodado um filme denominado “ Epopéia das Heroinas de Tejucupapo “.

As derrotas se sucederam para os holandeses. No ano de 1653, o governo português enviou ao Brasil uma esquadra comandada por Pedro Jacques de Magalhães, com objetivo de dar suporte ao governo local contra os holandeses. Uma parte dos holandeses fugiu para a Paraiba e Rio Grande do Norte e outra parte fugiu para o interior do estado, estabelendo-se na Campina da Taborda, no atual município de Vitória de Santo Antão, distante de Recife aproximadamente 55 km e ,lá foram enfrentados pelas forças do governo local e em 26 de janeiro de 1654, os holandeses se renderam na Batalha da Campina da Taborda, mas oficialmente se renderam no Tratado da Paz de Haia no dia 06 de agosto de 1661.

Os holandeses saíram do Brasil e foram para a América Central, notadamente nas Antilhas, onde plantaram cana-de-açúcar, com a experiência já adquirida e passaram a concorrer forte como açúcar brasileiro, na Europa.

Fontes: José Nicanor Filho, professor de História, radialista,guia turístico
Com informações de Cotrim, Gilberto-História e Consciência do Brasil, Wikipédia.

1 comentários:

Fernando Antonio de lima Olivera disse...

Gostei de lêr.

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